terça-feira, 9 de junho de 2009
Saudade
Ela apontou como se estivesse à deriva num horizonte vasto ou à beira-mar. Veio do nada. Sem aviso. Num ritmo lento. Devagar. Ainda irrelevante. Dominável. Aos poucos, foi se impondo, vibrando, crescendo, remoendo por dentro. Passou a voar por aí. Foi para lá, tornou aqui. Ventou suavemente para, logo em seguida, virar temporal. Trouxe raios e trovões. Tempestade solta no ar. Relâmpagos refletidos e rajadas possantes. Causou um incômodo momentâneo em tudo o que trazia de volta e revigorou o passado embriagado de doces lembranças. Revirou o que estava fechado em recordações brandas e serenas. Retumbou o estrondo aqui no peito como se nunca o tivesse visto. Fez-se o medo. Instalou-se o temor. Nada que se rendesse, de fato, ao pavor. Estabeleceu-se, sem sequer anunciar a chegada intensional. Criou a sina. Apertou firme. Doeu sentida. Exigiu a retomada do caminho deixado para trás. E saudou o presente. Confiou no impulso inconsequente e aguardou a sua estada premeditada. Era chegada a hora. Foi se acomodando, criando espaços, retornando aos laços que estavam findos. Aumentou depressa, ascendeu, elevou. Até explodir em emoções fortes e quase incontroláveis. Era ela. Era a mais dura proprietária dos sentidos. Buscou o objeto desejado para só então partir em paz, reencontrar o rumo, voltar ao lar. Decidiu com firmeza sua retirada. Já havia marcado sua presença e tinha em mente a certeza de que era o momento de afagar e se redimir. Parecia dona de si, mas virou dona de mim. Ô saudade que bate e não tem hora para diminuir ou acabar de vez.
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